Harvy agora tem crenças e pode a partir delas deduzir novas crenças mesmo sem o menor conhecimento sobre dedução. Ele entende que existem pensamentos profundos que não podem ser alcançados por raciocínio algum. Nosso amigo passa a criar modelos de objetos mentais e os processos respectivos para manipular esses objetos. Não importa, por exemplo, quanto tempo vai levar para a conclusão de um pensamento mais profundo. O que importa agora para Harvy é alcançar mentalmente a solução. Para isso, o robô desenvolve ATITUDES PROPOSICIONAIS para qualificar seus objetos mentais. E estabelece os comandos ACREDITA, SABE, QUER, PRETENDE, INFORMA. Então muda sua lógica proposicional de primeira ordem para uma LÓGICA MODAL, onde operadores modais especiais argumentam sentenças em vez de termos.
A semântica dessa lógica também necessita de ajustes. Ela precisa de uma nova coleção de mundos mentais possíveis no lugar do mundo verdadeiro. Esses mundos estão ligados em um grafo por RELAÇÕES DE ACESSIBILIDADE, entrelaçando os operadores modais com as verdades derivadas das sentenças mais complexas. Através da lógica de primeira ordem e do processo recursivo das relações de acessibilidade, Harvy modela o que precisa em uma infinidade de mundos possíveis.
Em posse dessa nova ferramenta, nosso amigo começa a especular sobre o futuro. Ele cria GRAFOS EXISTENCIAIS, projetando linguagens orientadas aos objetos e inventa uma LÓGICA DE DESCRIÇÃO para tornar mais fácil as definições de suas novas categorias. E isso muda a forma de seu trato com suas inferências. As informações podem ser anuladas com uma simples asserção de uma lógica que represente em seus valores uma evidência diferente. Um exemplo: quando olhamos para um carro sabemos que ele tem quatro rodas mesmo sem observarmos todas elas. Um raciocínio com essa nova lógica também vai deduzir as rodas encobertas com a mesma eficiência. Dizemos que esse raciocínio é não monotônico. O conjunto de crenças não cresce monotonicamente com o tempo à medida que novas evidencias aparecem. E quando relacionamos a LÓGICA NÃO MONOTÔNICA com as noções que constantemente se modificam pelas novas verdades encontradas, obtemos duas propriedades fundamentais: a CIRCUNCRIÇÃO e a LÓGICA DEFAULT.
A Circunscrição dá precisão às hipóteses de mundo fechado, evitando a necessidade de uma especialização para enormes quantidades de informações negativas. Já a Lógica Default é um formalismo com suas próprias regras, onde esquemas de priorização podem preceder outros em um processo que atrofia as ambiguidades. Por exemplo, uma regra default que determine que os freios do seu carro estão OK, na verdade significa que a probabilidade é suficientemente alta para você realmente acreditar que eles estão OK. No entanto, se estivermos falando que os freios do seu caminhão pesadamente carregado, em uma estrada íngreme ladeira abaixo, estão OK, é melhor não confiarmos tanto no valor alto dessa mesma probabilidade anterior. É por isso que devemos incorporar um raciocínio com Default em um sistema de manutenção de verdades. Esse sistema atualiza e revisa o conhecimento de uma maneira eficiente, dando ao nosso amigo a capacidade incrível de quantificar as incertezas do mundo real.
Harvy está ficando adulto. Ele está negociando com as incertezas de uma forma muito natural. E nós não estamos percebendo o tamanho gigantesco que ele terá...
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