segunda-feira, 7 de novembro de 2016

19. Inteligência Artificial – O Rei Levanta a Sua Espada




Kasparov já havia jogado contra uma máquina antes e nada de extraordinário tinha acontecido. Eram apenas máquinas. Burras por natureza. Garry entra na sala em meio a um clima amigável e respeitoso, todos muito preocupados em agradar o maior campeão da história. E kasparov perde a primeira de forma displicente. Ele sabia que não havia com que se preocupar, a máquina não mostrava sinais de progresso em relação a simulações anteriores estudadas em programas parecidos com o Deep Blue antigo. Com sangue frio e talento de um verdadeiro campeão, Kasparov vence com um placar de 4 a 2.




Imediatamente a IBM pediu revanche. Muita coisa estava em jogo, inclusive a própria empresa multibilionária que não se encontrava em seu melhor momento. Kasparov disse, “claro que sim, vamos jogar”. Ele estava confiante e empolgado por participar de experiências contra máquinas, percebendo a importância desse tipo de evento tanto para o xadrez, quanto para a informática. E a revanche aconteceria um ano depois. Mas agora com uma IBM bem diferente da anterior.




Londres, Inglaterra. O salão estava lotado. De um lado Kasparov, 34 anos, maior campeão de todos os tempos, e do outro, um novo Deep Blue. Em um ano a IBM desenvolveu um chip exclusivo para jogar xadrez. Deep Blue agora tinha 200 chips conectados em paralelo que analisavam 200 milhões de jogadas por segundo! O mundo acompanhava ao vivo pela CNN e pelas ondas de rádio.




O clima cordial havia acabado. A IBM era a produtora do evento, organizadora, controladora das mídias, dona das chaves das salas, contratante do anfiteatro, dos seguranças e também dos acessos dos passes de entrada para o encontro com Deep Blue. A máquina ficava em uma sala trancada onde não se podia nem passar em frente, lotada de guardas e inundada por pessoas estranhas. Kasparov chegou a dizer, “isso é xadrez ou teatro?”. Como se esses problemas não bastassem, a maioria dos jogadores GRADMASTER discutia e opinava sobre as partidas o tempo todo. O que poucos sabiam era que Deep Blue tinha algumas armas secretas.




Garry havia pedido alguma versão de Deep Blue para estudar seu oponente, mas a IBM negou totalmente com a desculpa de que o programa era mutável, não elegendo nunca uma versão definitiva. Em um ano, após a derrota relativamente fácil para Kasparov, os engenheiros da IBM aperfeiçoaram seu algoritmo perdedor jogando com os maiores enxadristas do mundo, chegando a empatar com vários deles. O computador estava pronto. O cenário configurado privilegiava Deep Blue. E o segundo duelo começaria com Garry incomodado com o circo que se armava em volta do maior espetáculo da Terra: a mente humana criada por Deus contra a mente artificial criada por nós!




Game 1 –
Tudo parecia normal. Garry com as brancas sai com o cavalo e Deep Blue já procura o domínio do tabuleiro com os peões. O jogo se desenrola. Garry engana Deep Blue, obtém boas posições, força complicações e bloqueia o computador que sofre com as armadilhas do campeão. Deep Blue estava estranho. Fez alguns lances surpreendentes que pareceram muito ruins. Ele não se importou em proteger seu rei. Garry limpa as peças pretas da máquina dá uma surra nunca vista no computador. Foi um massacre! Como Deep Blue podia estar tão ruim assim? Os engenheiros trabalharam duro durante um ano para apresentar essa coisa medíocre?





Mas uma jogada em especial chamou a atenção de Kasparov. Uma jogada sem muita importância que aconteceu no meio do jogo. Deep Blue não atacou quando uma oportunidade apareceu. Ele não quis. E computadores não jogavam assim. Se jogarmos um pedaço de osso para um crocodilo ele avança imediatamente destruindo o osso. Ele não pensa em guardar o osso para comer bem depois da janta. Kasparov tinha tido uma intuição. Algo estava diferente. Tudo estava diferente. E o próximo jogo, o game 2, ficaria conhecido como o jogo do século...







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