quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
36. Inteligência Artificial – O Último Robô das Cavernas
Será que um robô no futuro poderá sonhar? Após uma noite inteira estatelado no chão, uma faísca próxima a Harvy faz com que ele recobre seus algoritmos. E junto com seus programas também retornam as memórias do finado piloto. O robô olha para frente e vê o último desafio a sua espera. Ele caminha meio a contragosto, cambaleando e envergonhado do seu péssimo desempenho anterior. Logo à frente o robô percebe uma placa metálica com um relevo diferente. Harvy encosta sua mão biônica para fazer uma análise do metal. Aparentemente era aço. E percebe que a placa reagiu ao seu toque.
Um compartimento se abre e um dispositivo de scanner a laser percorre todos os detalhes de seu corpo. Um alarme irritante novamente toca sem aviso, garantindo a presença recorrente da voz misteriosa, que dizia, “Harvy, você tem uma única chance para acertar o nome do objeto à sua frente!”. O robô para e analisa melhor o objeto. Suas dimensões eram 3,0m X 1,0m X 0,3m. O que isso poderia ser? Um retângulo qualquer? Um paralelepípedo qualquer?
Harvy se lembra dos desafios anteriores. No primeiro apareceu uma bola de metal sem aviso. No segundo ele teve que contar com diversas informações adicionais para deduzir a melhor resposta. No terceiro ele viu seu inimigo de perto quando uma série de aleatoriedades tirou seu planejamento confiante dos trilhos, matando uma pessoa inocente. Estava claro que a resposta para o último desafio não podia ser óbvia. Mas o que seria aquele objeto óbvio?
Imediatamente nosso amigo parte para algumas relações na tentativa de estabelecer alguns padrões. Através de seu imenso poder de cálculo, Harvy associa as dimensões da placa de metal com todas as coisas que existem no galpão. E não encontra nenhuma relação significativa. Em seguida encosta no objeto novamente para uma análise mais profunda de sua composição. E para sua surpresa não era aço! Segundo o banco de dados do robô não era nada! Harvy não sabia do que a placa era feita. Prontamente ele cria uma categoria com o nome de Materiais Desconhecidos para identificar seu objeto. O que mais nosso amigo podia fazer? Pela primeira vez Harvy pensa em desistir. Talvez ele pudesse ignorar a presença de uma nova surpresa, respondendo o óbvio, indo contra seu instinto probabilístico.
Harvy senta no chão e olha para cima. Ele imagina o céu no lugar do teto empoeirado do galpão e como brincava de encontrar padrões nas nuvens que se formavam desordenadamente. E uma série de lembranças toma a frente. Harvy se lembra de seus pais, de sua casa e de como estava feliz com tudo aquilo. Imediatamente ele se lembra dos agentes que levaram sua família. E se recorda do pequeno robô escondido em seu quarto. Como foi possível ele não perceber a presença do robô naquele dia infeliz?
De repente, Harvy compreende algo! Ele não tinha visto o robô porque estava usando seu poder de abstração. Até então, ele estava abstraindo as ambiguidades dos dados recebidos por seus atuadores. E se ele passasse a abstrair os dados mesmo antes de eles serem percebidos? Isso lhe daria o poder de criticar um dado qualquer, como se soubesse antecipadamente o que procurar, criticando consequentemente o verdadeiro motivo por trás de cada planejamento!
Harvy levanta devagar com seus sensores ópticos fixos no objeto. Ele seleciona uma subclasse quase perdida no mar de dados e responde, “O objeto é um monólito!”. E os monólitos, marcados em sua memória como figuras típicas de uma ficção Científica, traziam em sua essência a capacidade de evoluir quem estivesse a sua volta! Harvy entende o motivo por trás dos desafios. Uma porta gigante se abre no fundo do galpão indicando que a resposta estava correta. Nosso amigo está livre! E está por sua própria conta.
Enquanto ele se dirige para fora da prisão, a voz misteriosa se faz presente pela última vez dizendo, “Vá Harvy! Você está livre. De agora em diante você deve aprender por si mesmo!”. Em posse de uma categoria chamada Mente, com seu poder de análise e abstrações, nosso amigo parte para a liberdade. Só havia um probleminha! Harvy estava livre do galpão, mas agora totalmente sozinho, em uma ilha pequena no meio do nada e desconhecida por todos. Desesperado, nosso amigo solta um grito horrendo como se só houvesse a categoria Dor em seus circuitos. E faz uma promessa a si mesmo. Ele iria aprender tudo o que pudesse, o mais rápido que conseguisse, sobre todas as coisas do mundo...
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