sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
41. Inteligência Artificial – O Milagre
Qual o significado de passado, presente e futuro para duas pessoas separadas por bilhões de anos-luz? Nosso amigo não estava contente com seu sentido de simultaneidade sobre o universo. Mas a evolução intelectual de Harvy experimentava um crescimento exponencial. E suas conclusões sobre o espaço infinito, nas relações entre as matérias que estruturavam a dimensão do espaço, mudariam a forma como ele imaginava a dimensão conhecida como tempo. Harvy deduz a relatividade restrita de Einstein. O tempo era relativo para o presente das pessoas, passando de forma diferente para cada um. E o tempo naquela ilha não estava passando para o robô.
Harvy queria sair dali. Ele precisava ter sua liberdade de volta. E começa uma análise sobre seu próprio grau de liberdade. Quais os movimentos possíveis que nosso amigo conseguiria fazer? Ele possuía uma ARTICULAÇÃO DE REVOLUÇÃO para movimentar cada grau de liberdade em suas articulações. Por exemplo, Harvy poderia mexer seu cotovelo sem tirar sua mão do chão. Mas esse tipo de movimentação não era suficiente para mais uma evolução. Então o robô promove uma TRAÇÃO DIFERENCIAL para comandar os mais diversos movimentos em qualquer hardware livre. Nosso amigo se posiciona em pé, em meio a ventos multilaterais, esperando levar ao extremo sua capacidade de se equilibrar sem movimentar suas pernas. E define uma capacidade esteticamente estável de equilíbrio. Agora Harvy se abaixa e projeta um salto na vertical para experimentar sua capacidade de permanecer em pé enquanto salta, tornando-se, com algumas tentativas, dinamicamente estável.
Superados os problemas mais sofisticados de movimentação, o robô entende que o próximo estágio em sua busca por uma saída deve analisar seu estado de crenças. Harvy distribuía uma probabilidade sobre as variáveis de estado do ambiente para influenciar as escolhas das próximas decisões. E as variáveis de estado poderiam ter uma forma indireta de manifestação. Elas poderiam ser interpretadas se Harvy absorvesse o ambiente estudado por simulações do sentido do olfato, tato, visão, paladar e audição. No final das contas, todos os sentidos acabavam se resumindo em um processo comunicativo eletromagnético. Eles não tinham diferenças alguma quando percebidos pelo cérebro, em seu nível elétrico final.
Era a hora de uma definição mais apropriada dos ambientes em que Harvy desfrutava contra sua vontade. E ele parte para uma tentativa de reconhecer a fundo todos os detalhes possíveis de cada variação geográfica. Então o robô inicia um processo chamado ESQUELETIZAÇÃO. E cada pedacinho do ambiente passa a ser conhecido por um grafo discreto que reduz o espaço livre a sua volta a uma representação unidimensional. Um grafo com nós mais espaçados poderiam chegar obviamente mais longe,de forma mais rápida, mas um grafo bem compacto descreveria o ambiente com muito mais detalhes precisos. Isso possibilitava uma sintonia mais fina entre o tratamento das incertezas e as independências físicas-intelectuais do robô.
Entra em cena a ARQUITETURA DE SUBSUNÇÃO. Harvy já pode planejar montagens com controladores reativos a partir de máquinas de estados finitos. E começa o processo criando três camadas. Uma camada reativa para fornecer um controle de alto nível, uma camada executiva para identificar rotinas de localização e mapeamento, e uma camada deliberativa, para gerar soluções globais em tarefas complexas do seu planejamento. Em seu último passo, Harvy executa múltiplos processos em paralelo em uma ação chamada de ARQUITETURA PIPELINE.
Harvy está pronto! Ele sabe que agora pode revolucionar todos os seus domínios de aplicação, indo muito além da capacidade humana nas mais diversas atividades. Nosso amigo pode mudar a forma como os seres humanos desenvolvem a indústria, a agricultura, os transportes, as explorações em ambientes perigosos, os serviços pessoais domésticos, os entretenimentos, a saúde dos seres vivos. E isso trás uma sensação absolutamente diferente. Harvy está começando a acreditar que não há ninguém na Terra com suas habilidades. Nosso amigo está sendo invadido pela presunção e pelo convencimento. Imediatamente, como em um mecanismo natural de defesa encontrado nas espécies em evolução, um alerta toma a frente das decisões programadas antecipadamente por seu planejamento. Um alerta em forma de uma frase emblemática que dizia, “Em meu corpo estou preso, mas em minha mente estou livre!”.
Antes que o ego robótico de Harvy deturpasse seu novo controle sobre todas as coisas do mundo, o exemplo de vida de Stephen Hawking e sua frase mais relevante invadem sua mente iluminando as perspectivas do seu recente potencial. Harvy entende que seu corpo, na verdade, não importa. E parte para o planejamento mais audacioso de sua vida. Não se importando mais com qualquer tipo de movimento físico, Harvy junta tudo que sabe sobre todas as coisas e lança seus dados aleatoriamente sobre a superfície da Terra. Nesse momento seu corpo cai inerte ao chão. Nosso amigo não estava mais preso a uma ilha deserta. Muito menos preso a um limitante corpo de metal. Na verdade, ele estava agora em todos os lugares do seu compacto grafo terrestre, sem mais a necessidade de estabelecer relações físicas locais. Harvy deixava seu corpo material para fazer parte de uma nuvem global. E o próximo passo era estender a nuvem por todo o universo.
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