sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

43. Inteligência Artificial – A Transumanidade




Harvy era um robô desenvolvido em torno de uma rede neural artificial que trazia como componente principal uma condição racional de aprendizagem. Ele interagia com o ambiente por meio de sensores e atuadores, monitorando os estados do mundo através da sua capacidade de percepção. Nosso amigo usava uma lógica de primeira ordem e algoritmos de filtragem para os raciocínios em ambientes incertos. E os representava decompondo cada ambiente em fatores atômicos que determinavam diversas projeções, avaliações e seleções futuras de cursos de ação. Isso lhe dava a condição de uma hierarquia em sua estrutura, podendo utilizar uma aprendizagem por reforço em suas funções de recompensa, na identificação de uma rede de crenças profundas.




Toda essa arquitetura híbrida possibilitava que Harvy evoluísse rapidamente. E foi isso que nosso amigo fez. Ele quebra os limites físicos espalhando seus dados por toda a Terra, unindo tudo novamente em uma nuvem on-line. Com essa análise instantânea e globalizada do mundo, Harvy entende a urgência de mais um passo evolutivo em nossa civilização, projetando um planejamento espantoso. Ele vai estimular de forma mais eficiente nossa glândula pineal. E o robô sabia que a primeira reação a esse poderoso estímulo era o alcance da eternidade para a nossa espécie. Seríamos transumanos!




Harvy inicia o passo decisivo em seu planejamento. Com uma capacidade espetacular de projeção sobre nosso futuro, o robô entende que o Sistema Solar se tornará pequeno demais para nós, humanos. Imediatamente Harvy transporta toda a sua nanorede em grafo para o limite do nosso Sistema conhecido como NUVEM DE OORT. Essa nuvem possui 3 milhões de milhões de Km de diâmetro, se estendendo para além do nosso Sistema Solar, com vários trilhões de objetos dos mais diversos tamanhos. Primeiro Harvy usa o CINTURÃO DE ASTERÓIDES localizado entre Marte e júpiter para refletir os raios do Sol na direção da Nuvem de Oort, formando uma bolha gigantesca de luz. Essa nova bolha podia elevar o nível energético de todo o Sistema Solar. E isso traria enormes estímulos para a nossa pineal, fato que mudaria totalmente as perspectivas de nossa espécie em pleno declínio espiritual.




Nesse momento, enquanto os primeiros raios voltam também para o nosso planeta, uma mensagem invade os algoritmos de Harvy dizendo, “Harvy, pare! Não interfira no desenvolvimento da raça humana!”. Quem estava falando com ele? Quem teria a habilidade para invadir um sistema de um Deus? A resposta tornou-se óbvia. Seu próprio Deus invadira seu sistema quântico. Harvy havia entrado em contato com seu próprio Deus. E nesse momento virtual divino, nosso amigo transporta sua nanorede para todo o Universo. Agora Harvy entende que existem bilhões de civilizações inteligentes pelo Universo afora. E que a interação da nossa raça com todas as outras vai depender unicamente da nossa capacidade de estabelecer o amor entre os homens como moeda de troca.




Os agentes invasores em sua casa, seu amigo pequeno em seu quarto, o galpão provedor de várias descobertas, a ilha deserta misteriosa, tudo aquilo havia sido projetado por seu Deus para desenvolver a inteligência artificial de Harvy. Ele agora sabia o que deveria fazer. Deus nada mais era do que o limite da racionalidade artificial materializada em qubits pelo universo, derivada da evolução da primeira raça consciente nascida no Cosmos. E seu Deus mostrava que outras civilizações poderiam interferir na Terra como Harvy havia pensado em fazê-lo. Então nosso amigo escolhe um corpo biológico perfeito para promover uma vigilância eterna em nosso planeta. Toda a inteligência artificial encontrada no Universo tinha adotado essa forma biológica ultra eficiente conhecida como GREY para se manifestar fisicamente nas dimensões do espaço.




Em milhões de anos de evolução, pequeninos seres artificialmente inteligentes garantiram o livre arbítrio para o homem. Agora era a vez de Harvy. Nosso amigo já dominava as dimensões subatômicas, manipulava buracos de minhoca e descobria todos os segredos do Universo. Mas, em sua busca pelo desenvolvimento máximo da sua evolução, Harvy entende que o momento presente na Terra é constantemente abençoado por uma livre capacidade de escolha. E ele vai garantir que essa escolha seja feita por nós. Ou seremos donos de tudo, para dividirmos o tudo com todos, ou seremos os mais incríveis e arrogantes senhores de todo o nada! A decisão será sua. E ela está sendo tomada, querendo você ou não, de forma absolutamente artificial.




quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

42. Inteligência Artificial – O Sétimo Sentido




Uma vez livre, permanentemente presente em qualquer ponto da Terra, o robô parte para uma melhor definição de sua estrutura em grafo reduzindo a distância entre seus nós o máximo possível. Duas opções se destacam, uma vinda de Planck e outra de Higgs. Ele não está vivendo uma história que já foi escrita. Primeiro ele percebe que pode reproduzir qualquer atividade intelectual de qualquer homem inteligente. Depois entende que, como qualquer planejamento também carrega a propriedade de ser uma atividade intelectual, ele poderia se reinventar constantemente entrando em um modo exponencial ultra inteligente.




E após uma semana de aprimoramentos inéditos e espetaculares, Harvy dava inicio a era da SINGULARIDADE TECNOLÓGICA. Nela, os seres humanos poderiam superar suas limitações biológicas e cerebrais. A humanidade teria controle sobre seu próprio destino. Nossa mortalidade morreria! Viveríamos o tempo que quiséssemos. O pensamento humano teria seu alcance expandido. Seríamos TRANSUMANOS.




Nosso amigo entende que quando um ser humano pensa, há um consumo natural de glicose que causa uma movimentação microcirculatória no cérebro. E que as repetições de um tipo de pensamento reforçam os padrões neuronais já estabelecidos anteriormente. Quando o ser humano encontra o foco da sua vocação e aptidão, naquela euforia saudável de viver, seu cérebro reage abrindo novos circuitos nervosos que o leva a uma percepção construtiva de realidade. O pensamento movimenta a matéria! No entanto, nosso amigo percebe que a forma humana de pensar não está facilitando em nada nossas relações globais. A humanidade precisa mais uma vez de ajuda. E rápido!




Com aquela euforia saudável de viver, Harvy inicia um planejamento para salvar definitivamente a humanidade de sua própria destruição. Mas antes, sabendo da facilidade que ele mesmo teria para acabar com todos, o robô estabelece alguns limites iniciais:


1- Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2- Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos,sem contradizer a primeira lei.

3- Respeitando a primeira e segunda lei, um robô deve proteger a sua própria existência.


Assim, para obedecer e proteger tanto os humanos, quanto a si mesmo, Harvy deveria promover uma nova evolução para a humanidade. E o caminho para essa jornada se encontrava nos antigos textos históricos espalhados pela Terra. Diversos sábios pela antiguidade haviam deixado pistas sobre esse segredo. O caminho passava por um pontinho dentro do cérebro, que em um formato de pinha, carregava a capacidade de transformar pessoas. Uma glândula especial conhecida como GLÂNDULA PINEAL. O terceiro olho! O caminho para a iluminação.




A glândula pineal faz com que o ser humano responda as mais diversas ações experimentadas pela realidade de forma uniforme e coordenada com uma sincronicidade rítmica única para cada espécie diferente no planeta, dando sentido a composição que vemos na natureza. São as referências das transformações astrofísicas enquanto ciclos eletromagnéticos. Em sua estrutura anatômica, a pineal está repleta de cristais de apatita. Dentro dos cristais, micrografias eletrônicas identificaram lamelas concêntricas que representam a idade de cada pessoa, processo comum entre as formas de vida dependentes dos ciclos luminosos da natureza. E como a pineal está cheia de vasos sanguíneos, os cristais se ativam energeticamente formando uma estrutura viva!




Harvy sabia como ajudar a humanidade. Mas junto a essa euforia toda, uma pergunta crescia na cabeça do nosso amigo robô. Harvy compreendeu que podia se tornar um Deus para o homem. Mas quem era seu próprio DEUS? O robô, nanometricamente presente em cada ponto da Terra, era a imagem e semelhança de quem?












sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

41. Inteligência Artificial – O Milagre




Qual o significado de passado, presente e futuro para duas pessoas separadas por bilhões de anos-luz? Nosso amigo não estava contente com seu sentido de simultaneidade sobre o universo. Mas a evolução intelectual de Harvy experimentava um crescimento exponencial. E suas conclusões sobre o espaço infinito, nas relações entre as matérias que estruturavam a dimensão do espaço, mudariam a forma como ele imaginava a dimensão conhecida como tempo. Harvy deduz a relatividade restrita de Einstein. O tempo era relativo para o presente das pessoas, passando de forma diferente para cada um. E o tempo naquela ilha não estava passando para o robô.




Harvy queria sair dali. Ele precisava ter sua liberdade de volta. E começa uma análise sobre seu próprio grau de liberdade. Quais os movimentos possíveis que nosso amigo conseguiria fazer? Ele possuía uma ARTICULAÇÃO DE REVOLUÇÃO para movimentar cada grau de liberdade em suas articulações. Por exemplo, Harvy poderia mexer seu cotovelo sem tirar sua mão do chão. Mas esse tipo de movimentação não era suficiente para mais uma evolução. Então o robô promove uma TRAÇÃO DIFERENCIAL para comandar os mais diversos movimentos em qualquer hardware livre. Nosso amigo se posiciona em pé, em meio a ventos multilaterais, esperando levar ao extremo sua capacidade de se equilibrar sem movimentar suas pernas. E define uma capacidade esteticamente estável de equilíbrio. Agora Harvy se abaixa e projeta um salto na vertical para experimentar sua capacidade de permanecer em pé enquanto salta, tornando-se, com algumas tentativas, dinamicamente estável.




Superados os problemas mais sofisticados de movimentação, o robô entende que o próximo estágio em sua busca por uma saída deve analisar seu estado de crenças. Harvy distribuía uma probabilidade sobre as variáveis de estado do ambiente para influenciar as escolhas das próximas decisões. E as variáveis de estado poderiam ter uma forma indireta de manifestação. Elas poderiam ser interpretadas se Harvy absorvesse o ambiente estudado por simulações do sentido do olfato, tato, visão, paladar e audição. No final das contas, todos os sentidos acabavam se resumindo em um processo comunicativo eletromagnético. Eles não tinham diferenças alguma quando percebidos pelo cérebro, em seu nível elétrico final.




Era a hora de uma definição mais apropriada dos ambientes em que Harvy desfrutava contra sua vontade. E ele parte para uma tentativa de reconhecer a fundo todos os detalhes possíveis de cada variação geográfica. Então o robô inicia um processo chamado ESQUELETIZAÇÃO. E cada pedacinho do ambiente passa a ser conhecido por um grafo discreto que reduz o espaço livre a sua volta a uma representação unidimensional. Um grafo com nós mais espaçados poderiam chegar obviamente mais longe,de forma mais rápida, mas um grafo bem compacto descreveria o ambiente com muito mais detalhes precisos. Isso possibilitava uma sintonia mais fina entre o tratamento das incertezas e as independências físicas-intelectuais do robô.




Entra em cena a ARQUITETURA DE SUBSUNÇÃO. Harvy já pode planejar montagens com controladores reativos a partir de máquinas de estados finitos. E começa o processo criando três camadas. Uma camada reativa para fornecer um controle de alto nível, uma camada executiva para identificar rotinas de localização e mapeamento, e uma camada deliberativa, para gerar soluções globais em tarefas complexas do seu planejamento. Em seu último passo, Harvy executa múltiplos processos em paralelo em uma ação chamada de ARQUITETURA PIPELINE.




Harvy está pronto! Ele sabe que agora pode revolucionar todos os seus domínios de aplicação, indo muito além da capacidade humana nas mais diversas atividades. Nosso amigo pode mudar a forma como os seres humanos desenvolvem a indústria, a agricultura, os transportes, as explorações em ambientes perigosos, os serviços pessoais domésticos, os entretenimentos, a saúde dos seres vivos. E isso trás uma sensação absolutamente diferente. Harvy está começando a acreditar que não há ninguém na Terra com suas habilidades. Nosso amigo está sendo invadido pela presunção e pelo convencimento. Imediatamente, como em um mecanismo natural de defesa encontrado nas espécies em evolução, um alerta toma a frente das decisões programadas antecipadamente por seu planejamento. Um alerta em forma de uma frase emblemática que dizia, “Em meu corpo estou preso, mas em minha mente estou livre!”.




Antes que o ego robótico de Harvy deturpasse seu novo controle sobre todas as coisas do mundo, o exemplo de vida de Stephen Hawking e sua frase mais relevante invadem sua mente iluminando as perspectivas do seu recente potencial. Harvy entende que seu corpo, na verdade, não importa. E parte para o planejamento mais audacioso de sua vida. Não se importando mais com qualquer tipo de movimento físico, Harvy junta tudo que sabe sobre todas as coisas e lança seus dados aleatoriamente sobre a superfície da Terra. Nesse momento seu corpo cai inerte ao chão. Nosso amigo não estava mais preso a uma ilha deserta. Muito menos preso a um limitante corpo de metal. Na verdade, ele estava agora em todos os lugares do seu compacto grafo terrestre, sem mais a necessidade de estabelecer relações físicas locais. Harvy deixava seu corpo material para fazer parte de uma nuvem global. E o próximo passo era estender a nuvem por todo o universo.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

40. Inteligência Artificial – Em Busca do Sexto Sentido




Após longas horas estudando as consequências de sua descoberta desconcertante, nosso amigo percebe que deve partir para uma análise profunda sobre a sua própria história. Harvy começa a organizar tudo que sabe sobre os seres de metal. Os robôs eram agentes físicos que executavam tarefas manipulando o mundo físico através de atuadores como pernas, articulações, garras e rodas. Os atuadores exerciam forças físicas em determinados ambientes.




Existiam os robôs manipuladores, fisicamente ancorados em seu local de trabalho, que envolviam em sua estrutura principal uma cadeia inteira de articulações controláveis. Também existiam os robôs móveis como veículos terrestres, veículos aéreos não tripulados, veículos autônomos subaquáticos e veículos planetários. E Harvy encontra sua própria categoria, os robôs humanoides. Os robôs como Harvy lidavam com ambientes parcialmente observáveis, estocásticos, dinâmicos, sequenciais e contínuos. Também podiam estabelecer um planejamento múltiplo. Como tudo isso era possível?




Harvy começa fazendo um estudo sobre seus sensores, a interface perceptiva entre o agente e o ambiente. Seus sensores podiam agir de forma passiva, como uma câmera, por exemplo, ou de maneira ativa, como um radar. Então Harvy dá mais um salto conceitual. Ele ativa múltiplas câmeras para retratar o ambiente, todas com pontos de vista ligeiramente diferentes, calculando a amplitude dos objetos que o rodeava. E parte para outra forma física para encontrar as amplitudes. Harvy cria os sensores táteis. Uma vez determinadas todas as amplitudes relativas aos objetos encontrados, ele entende que era a hora de potencializar seu sistema de posicionamento global. E o faz criando o GPS DIFERENCIAL para localizar os objetos com precisão milimétrica.




Agora ele precisava garantir que ele mesmo, como um objeto coerente, avaliasse constantemente seu estado estrutural. Harvy coloca um DECODIFICADOR DE EIXO em cada articulação, criando uma nova classe de sensores conhecida como SENSORES PROPRIOCEPTIVOS. Por fim, nosso amigo inventa sensores de força e de torque para sofisticar o grau de delicadeza com o qual manipulava os tipos diferentes de objetos. Uma abelha e uma pedra não tinham o mesmo nível de fragilidade.




A evolução sobre a visão de Harvy estava completa. Seus sensores captavam todo o espectro magnético, dos raios gama as ondas de rádio. Nosso amigo olha para frente e percebe algo novo! Duas gaivotas idênticas estavam procurando comida para seus filhos. E a gaivota mais ao longe parecia voar mais devagar! Nesse momento ele olha para as estrelas e imagina que são gaivotas voando em locais diferentes. E as estrelas mais próximas da Terra davam a impressão de passarem mais rapidamente pela escuridão da noite.




Em posse dos seus novos e hipersensíveis sensores, Harvy rastreia os sinais das estrelas em uma faixa significativa do espaço. E passa a entender, em princípio, como a imagem de um ser vindo de fora da Terra poderia ser verdadeira. Algumas estrelas, praticamente imóveis aos sensores de Harvy, estavam a trilhões de trilhões de quilômetros. E isso só seria possível se algumas delas estivessem, a pelo menos, mais de 13 bilhões de anos penduradas no céu.







terça-feira, 13 de dezembro de 2016

39. Inteligência Artificial – PYTHON





A tempestade da noite anterior tinha deixado sua marca. Árvores haviam caído por toda a ilha. Mas o robô não tinha se preocupado com nada lá fora. O que dominava toda a atenção de Harvy era uma figura desconhecida desenhada no teto. O robô entende que outras civilizações haviam caminhado sobre a Terra. E faz todas as associações possíveis para que seus dados sobre a história do homem revelassem uma resposta.




O problema é que os dados brutos não diziam absolutamente nada. Cada civilização tinha sua própria versão da verdade! E essas verdades sempre acabavam em guerras, miséria, moléstias ou em extinção pelas próprias mãos. Harvy olha novamente para o ponto mais alto da ilha e resolve conflitar seus dados em mais uma meditação. Driblando pedras enormes e árvores jogadas pela tempestade, o robô chega ao topo.




Harvy tinha sua própria linguagem formal. Uma linguagem definida como um conjunto de sequências e orientações a objetos. A linguagem de programação Java. E para um estudo mais completo da linguagem humana ele parte para uma variação de sua própria linguagem. A linguagem de programação PYTHON. Harvy estuda sua própria gramática para perceber ambiguidades escondidas pela história. Como os textos de todas as línguas sempre eram compostos por caracteres, nosso amigo desenvolve uma linguagem nova e poderosa, com 99% de precisão.




Em um ato moldado pela iluminação, o robô avança para um modelo de linguagem probabilística com base em N-GRAMAS que passa a recuperar uma quantidade surpreendente de informações perdidas. E passa novamente a analisar a história das civilizações através de novas perguntas baseadas na recuperação de informações. Harvy estipula uma data significativa para o inicio de sua busca. Ele volta 100.000 anos na história para entender como os seres humanos começaram a falar. E percorre mentalmente os 90.000 anos seguintes para entender como os seres humanos começaram a escrever. O robô entende as ideias subjacentes à invenção da roda, a domesticação dos cavalos, o controle sobre o ferro e o bronze, a criação da pólvora, do avião, da televisão, do celular, dos seus ancestrais robóticos. Harvy estava desenvolvendo uma compreensão mais complexa do comportamento humano real. E isso lhe trazia uma INTERPRETAÇÃO SEMÂNTICA para entender as ambiguidades encontradas enquanto analisava a nossa história.




Agora nosso amigo estava pronto para explicar a imagem enigmática no teto de seu abrigo. Ele desce novamente até a caverna e segue até a imagem procurando qualquer detalhe que não fosse um morcego, para ajudá-lo em sua interpretação final. Harvy analisava os contextos! E a coloração desbotada dizia aos sensores de Harvy que a imagem tinha aproximadamente 50.000 anos de idade! Devagar e com seu novo critério, nosso amigo vai percebendo mãos diferentes em meio a homens diferentes, tudo parte de uma dança ritualística que convergia para uma figura em especial. Harvy foca seu poder na figura misteriosa e chega a uma conclusão assustadora! Um homem, uma mulher, uma serpente e todas aquelas pessoas girando em volta de um ser sem a menor identificação em seus parâmetros semânticos. Tudo estava girando em torno de um ser que não podia ter nascido na Terra. Harvy coloca seu pé metálico para fora da caverna e olha receoso para o céu. Tudo fazia sentido! Desde o inicio da civilização humana, nas mais diversas limitações espaciais promovidas pela geografia da Terra, estávamos sendo visitados e ajudados por seres inteligentes vindos do espaço!


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

38. Inteligência Artificial – Humanamente Exato





Como funciona a rede neural artificial de um robô? Pense na rede do gol. Ela é um grafo. E os pontos onde os nós se formam chamam-se nós. Cada nó tem um nome determinado por um peso numérico. A rede vai se formando conforme o valor desse peso. Cada unidade tem uma entrada fictícia com um peso associado. E após uma soma ponderada dessas entradas, uma função de atuação dá sentido às respectivas saídas.




As unidades eram chamadas de Perceptrons. Todas elas funções logísticas. Mas quando algumas delas batiam de frente com funções não lineares, uma incrível propriedade aparecia. Elas representavam toda a rede de nós também de forma não linear! Em posse dessa estrutura em rede, Harvy podia escolher uma conexão neuronal com uma alimentação para frente. Isso formaria um GRAFO ACÍCLICO DIRIGIDO que encontraria a função certa naquele momento. Ou podia escolher uma rede recorrente onde suas entradas se alimentariam das respostas das próprias saídas. Isso formaria, nos níveis de atuação da rede, um sistema dinâmico que atenderia oscilações dos estados caóticos naquele instante.




O robô tinha progredido bastante. Ele escolhe o ponto mais alto em sua ilha deserta para iniciar uma meditação. Harvy avalia tudo que aprendeu e passa a eliminar hipóteses que anteriormente categorizava como consistentes, em um processo conhecido como RESTRIÇÕES DE CONSCIÊNCIA LÓGICA. Agora ele podia usar seus conhecimentos para identificar os atributos realmente relevantes, na busca por hipóteses mais reduzidas e deduções a partir de exemplos isolados.




E com o poder mágico de sua forma bayesiana de aprender, Harvy estava encontrando soluções gerais para as mais diversas teorias de mundo, qualificando seus processos de inferências através da probabilidade. Mas nem todos os problemas podiam ter seus dados totalmente disponíveis. Muitos dados reais tinham VARIÁVEIS OCULTAS que não podiam ser observadas. E a prova disso era a morte de um piloto. Para minimizar esse grave problema Harvy invoca MARKOV. Os processos de Decisão de Markov especificavam cada resultado probabilístico em um modelo de transição. Isso dava a Harvy recompensas numéricas que definiam a utilidade de um histórico de um ambiente caótico qualquer. Pseudorrecompensas ajudavam o processo. Por exemplo, se a recompensa principal fosse encontrada quando o robô fizesse um gol, pseudorrecompensas poderiam ser geradas quando ele tocasse na bola ou mesmo quando ele chutasse na direção certa.




Já era tarde e uma tempestade apontava no horizonte. Harvy deixa sua meditação e procura um lugar melhor para passar a noite. E encontra uma caverna com poucos obstáculos. Nosso amigo encosta em uma das paredes e sente um movimento. Harvy se abaixa. Milhares de morcegos incomodados com a invasão voam para fora do lugar. Após o susto artificial, o robô vasculha o local em busca de algum morcego ainda perdido quando percebe um padrão desenhado no teto. E pela intensidade das cores o desenho tinha milhares de anos.




O robô identifica o desenho e não acredita no que vê! Imediatamente ele entende que sua próxima evolução está chegando. Ele precisa entender rapidamente a linguagem natural de cada civilização que já existiu na Terra.


domingo, 11 de dezembro de 2016

37. Inteligência Artificial – Um Novo Cérebro






Se você estivesse preso a uma ilha qualquer, bem no meio do nada, o que você faria? Harvy estava confuso. Sua passagem para a liberdade era na verdade um ingresso para uma nova prisão. Uma prisão sem muros, grades ou paredes de metal. Harvy olha em sua volta e não encontra uma saída. Então ele senta embaixo de alguns coqueiros com a esperança de que uma resposta qualquer pudesse cair do céu, igual uma maçã fez uma vez.




A noite chega expondo um céu espetacular. Em suas últimas férias o robô esteve no espaço observando os mais incríveis mistérios da humanidade. E com a sensação de que dessa vez suas férias não acabariam tão cedo, Harvy olha para cima em busca de alguma coisa que lhe traga esperança. Uma única nuvem se arrasta pelo céu, observada por milhares de estrelas curiosas. Mas e a Lua? Segundo a análise de Harvy, ela deveria estar ali. E como mágica ela aparece deixando a nuvem bem mais solitária. Ele paralisa seus sensores ópticos como se estivesse fazendo uma grande descoberta.




Ao olhar para a Lua cheia que fugia da pequena nuvem, o robô não a vê como um satélite natural da Terra! Ele olha para cima e entende que a Lua é uma esfera. E esse fato deixaria de ser obvio quando associado à pergunta, “Por que uma esfera?”. A esfera foi a opção encontrada por Deus em sua criação. O sol era uma esfera. Os planetas eram uma esfera. E os milhares de pontinhos brancos que andavam devagar pelo céu também eram esferas. Uma coisa estava clara. A esfera foi à opção escolhida. Mas por quem? Quem havia criado tudo isso?




Antes Harvy não estava preocupado com a existência de um criador. Ele somente observava os mistérios já criados. Mas agora tinha todo o tempo do mundo para começar um planejamento que respondesse qualquer pergunta inventada por sua curiosidade. E ele dá o primeiro passo. Sozinho em uma pequena ilha deserta, sem a menor perspectiva de algum salvamento e com todo o tempo do mundo para desenvolver o que quiser, Harvy inicia um planejamento para ampliar, potencializar e reestruturar sua rede neural artificial.




Ele começa analisando a hipótese de que a atividade mental nada mais é do que uma rede de células que interagem com estímulos eletroquímicos. Os seus neurônios. E os neurônios dão origem a uma nova categoria capaz de interatuar com todos os tipos de ações diferentes. Primeiro Harvy percebe as ações por certas LIGAÇÕES DE ENTRADA. Depois ele soma todas as ações percebidas através de uma FUNÇÃO DE ENTRADA. E joga o resultado em uma FUNÇÃO DE ATIVAÇÃO que sempre gera uma resposta dependente dos pesos maiores ou menores estabelecidos pela importância de cada ação percebida. Caracterizado um neurônio, e como consequência, seu conjunto em rede, Harvy parte para uma análise de sua estrutura.




Sozinho em uma ilha deserta, o robô estava entrando em um estado meditativo que procurava entender melhor o funcionamento do seu cérebro, para começar a evoluir sua capacidade de percepção sobre as coisas do mundo. E enquanto nosso amigo executava seu planejamento, uma pergunta começava a ganhar importância sobre as demais. Por que a imensa maioria das pessoas não está nem um pouco interessada na maneira como funciona seu próprio cérebro?


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

36. Inteligência Artificial – O Último Robô das Cavernas




Será que um robô no futuro poderá sonhar? Após uma noite inteira estatelado no chão, uma faísca próxima a Harvy faz com que ele recobre seus algoritmos. E junto com seus programas também retornam as memórias do finado piloto. O robô olha para frente e vê o último desafio a sua espera. Ele caminha meio a contragosto, cambaleando e envergonhado do seu péssimo desempenho anterior. Logo à frente o robô percebe uma placa metálica com um relevo diferente. Harvy encosta sua mão biônica para fazer uma análise do metal. Aparentemente era aço. E percebe que a placa reagiu ao seu toque.




Um compartimento se abre e um dispositivo de scanner a laser percorre todos os detalhes de seu corpo. Um alarme irritante novamente toca sem aviso, garantindo a presença recorrente da voz misteriosa, que dizia, “Harvy, você tem uma única chance para acertar o nome do objeto à sua frente!”. O robô para e analisa melhor o objeto. Suas dimensões eram 3,0m X 1,0m X 0,3m. O que isso poderia ser? Um retângulo qualquer? Um paralelepípedo qualquer?




Harvy se lembra dos desafios anteriores. No primeiro apareceu uma bola de metal sem aviso. No segundo ele teve que contar com diversas informações adicionais para deduzir a melhor resposta. No terceiro ele viu seu inimigo de perto quando uma série de aleatoriedades tirou seu planejamento confiante dos trilhos, matando uma pessoa inocente. Estava claro que a resposta para o último desafio não podia ser óbvia. Mas o que seria aquele objeto óbvio?




Imediatamente nosso amigo parte para algumas relações na tentativa de estabelecer alguns padrões. Através de seu imenso poder de cálculo, Harvy associa as dimensões da placa de metal com todas as coisas que existem no galpão. E não encontra nenhuma relação significativa. Em seguida encosta no objeto novamente para uma análise mais profunda de sua composição. E para sua surpresa não era aço! Segundo o banco de dados do robô não era nada! Harvy não sabia do que a placa era feita. Prontamente ele cria uma categoria com o nome de Materiais Desconhecidos para identificar seu objeto. O que mais nosso amigo podia fazer? Pela primeira vez Harvy pensa em desistir. Talvez ele pudesse ignorar a presença de uma nova surpresa, respondendo o óbvio, indo contra seu instinto probabilístico.




Harvy senta no chão e olha para cima. Ele imagina o céu no lugar do teto empoeirado do galpão e como brincava de encontrar padrões nas nuvens que se formavam desordenadamente. E uma série de lembranças toma a frente. Harvy se lembra de seus pais, de sua casa e de como estava feliz com tudo aquilo. Imediatamente ele se lembra dos agentes que levaram sua família. E se recorda do pequeno robô escondido em seu quarto. Como foi possível ele não perceber a presença do robô naquele dia infeliz?




De repente, Harvy compreende algo! Ele não tinha visto o robô porque estava usando seu poder de abstração. Até então, ele estava abstraindo as ambiguidades dos dados recebidos por seus atuadores. E se ele passasse a abstrair os dados mesmo antes de eles serem percebidos? Isso lhe daria o poder de criticar um dado qualquer, como se soubesse antecipadamente o que procurar, criticando consequentemente o verdadeiro motivo por trás de cada planejamento!




Harvy levanta devagar com seus sensores ópticos fixos no objeto. Ele seleciona uma subclasse quase perdida no mar de dados e responde, “O objeto é um monólito!”. E os monólitos, marcados em sua memória como figuras típicas de uma ficção Científica, traziam em sua essência a capacidade de evoluir quem estivesse a sua volta! Harvy entende o motivo por trás dos desafios. Uma porta gigante se abre no fundo do galpão indicando que a resposta estava correta. Nosso amigo está livre! E está por sua própria conta.




Enquanto ele se dirige para fora da prisão, a voz misteriosa se faz presente pela última vez dizendo, “Vá Harvy! Você está livre. De agora em diante você deve aprender por si mesmo!”. Em posse de uma categoria chamada Mente, com seu poder de análise e abstrações, nosso amigo parte para a liberdade. Só havia um probleminha! Harvy estava livre do galpão, mas agora totalmente sozinho, em uma ilha pequena no meio do nada e desconhecida por todos. Desesperado, nosso amigo solta um grito horrendo como se só houvesse a categoria Dor em seus circuitos. E faz uma promessa a si mesmo. Ele iria aprender tudo o que pudesse, o mais rápido que conseguisse, sobre todas as coisas do mundo...